O Rio de Janeiro passa por um período de eferverscência econômica brutal, alavancado pelos mega eventos que acontecerão na cidade, trazendo consigo um clima bastante favorável a mudanças.
Pedro
Porém, o progresso de fato nessa belle époque carioca ainda não trouxe melhoras concretas para a vida do próprio carioca, que na maioria das vezes fica em segundo plano. E essa situação pode ser diagnosticada também em todas os cantos do Brasil. Esses reflexos de uma transição um tanto quanto confusa do Estado totalitário para o Estado de regime democrático, resultou num Estado mínimo que precisa de significativo controle social. Essa confusa transição se deu em meados da década de 90 e construiu um modelo fundamentado na seguinte concepção: compro logo existo (era sexo, drogas e mastercard).
O abismo social que essa concepção gerou já vem dando provas há anos, mas a resposta que deveria ter sido dada ao problema ao longo de anos pelos governantes brasileiros, terão que ser solucionadas como um passe de mágica em 3 anos, numa tentativa desesperada de tapar o sol com uma peneira. Não é a toa que a Copa do Mundo do Brasil está bastante cotada a ser a mais cara da história, onde os superfaturamentos serão até considerados modalidade olímpica.
Os paraísos fiscais irão se multiplicar, surgirão caixas 2, 3, 4, 5 e os nossos representantes como já de rotina irão governar pelos próprios interesses e nós veremos tudo isso de braços cruzados, enquanto surgem mais e mais CPIs para no final todos sejam absolvidos, vide o caso recente da nossa magnífica Jaqueline Roriz, que foi FLAGRADA recebendo dinheiro do delator do Mensalão, porém a maioria absoluta dos seus companheiros resolveram lhe desobrigar dessa falcatrua sem tamanho para com o povo brasileiro. As medidas de sigilo no orçamento da Copa já foram autorizadas, para garantir maior privacidade a nossos parlamentares, que consideram essa medida de "extrema importância". Nós ainda vamos pagar muito caro por essa apatia política, com movimentos sociais dormentes, oposição governista calada, silenciada e completamente $eduzida.
Não vejo um futuro esperançoso enquanto corrupção não for tratado com crime hediondo e intolerável. Outro aspectos importante que vale ressaltar é o seguinte: de 1995 a 2010 a população carcerária cresceu 319%, um ritmo avassalador. Nota-se que nós somos o país onde mais se prende e mesmo assim instaurou-se uma cultura de impunidade (estranho?!).
A esquizofrenia penal interessa demais a um setor, o ganho proveitoso que existe aí por trás gera inúmeros transtornos. 70% dos presos hoje são reincidentes, o sistema penal brasileiro é notoriamente falho, qualquer leigo sabe que esse sistema não ressocializa ninguém, pelo contrário, é uma escola do crime. Fora as constantes violações de direitos humanos que são cometidas diariamente, muito em função da ausência de vontade política das autoridades competentes, que nada fazem para instituir uma reforma.
O verdadeiro interesse penal é recolher os "supérfluos" do sistema. Os inimigos de Estado hoje não são mais devido a ideologias mas sim as sobras da sociedade de consumo. O grande debate do Rio de Janeiro hoje está concentrado na seguinte questão: território/governança/Estado/soberania.
A questão das milícias não é enfatizada porque não assusta o capital estrangeiro e privado, ainda por cima são eleitas e de quebra frequentam o palácio. O problema das favelas hoje ganham outros contornos, pois só se começou a pensar numa política de planejamento de última hora. A favela não está com a ausência do Estado mas o que acontece na realidade é uma aplicação da política de não-assistência.
É perigoso pensar que a democracia só se consolida com a presença da polícia, é uma visão deturpada e que pode ocasionar muitos excessos.
O Estado policial repressor vai contra o ideal de Estado constitucional de direitos. As UPPs foi uma grande solução para a eliminação das diversas fronteiras armadas existentes no submundo carioca. Porém a redução de índice de criminalidade pode ser mascarado pela pulverização criminosa. As UPPs são soluções que devem ser aplicadas a curto prazo. O mais importante de tudo é a implementação dos reflexos SOCIAIS nas favelas, com a maximização dos serviços do Estado em benefício direto no dia-a-dia.
Os mega eventos são obrigados a preservar a dignidade das pessoas e o crescimento adequado da sociedade, o problema está na má distribuição que poderá ocorrer, no qual esses investimentos serão voltados exclusivamente para a manutenção de quem já possui um alto padrão de vida e não para o auxílio dos mais abastados/invisíveis que carecem desses reflexos sociais.
Por fim, farei minhas as palavras do grande mestre Oscar Niemeyer, esbanjando lucidez após 103 anos:
"Projetar Brasília para os políticos que vocês colocaram lá, foi como criar um lindo vaso de flores para vocês usarem como pinico. Hoje eu vejo, tristemente, que Brasília nunca deveria ter sido projetada em forma de avião, mas sim de camburão!"
Pedro