Eu poderia dizer que a música (do grego musiké téchne, a arte das musas) é uma forma de arte que constitui-se basicamente em combinar sons e silêncio seguindo ou não uma pré-organização ao longo do tempo, segundo o wikipédia. Mas não é esse o sentido que eu quero. Eu quero o sentido social da música e sua multiplicidade de critérios. A música é o reflexo de uma geração expressa em forma de arte... É isso que me deixa um pouco perturbado, perplexo.
Se voltássemos para 1964 onde todas as formas de perseguição foram intensificadas conseguimos enxergar a música como forma de protesto e denúncia camufladas em obras de duplo sentido, alertando os mais atentos e tentando despistar os mais críticos. Época de música de verdade. Falo de Chico Buarque, Caetano Veloso, Elis Regina, Gilberto Gil, Geraldo Vandré, Raul Seixas entre outros...
Se voltássemos um pouco mais, final dos anos 50, encontrariámos o estilo suave e sofisticado da Bossa Nova surgindo: Tom Jobim, João Gilberto.
De lá pra cá tem uma lista seleta que eu poderia citar aqui, então não vale nem a pena começar: Jorge Ben Jor, Tim Maia, Paralamas do Sucesso, Titãs, Barão Vermelho, Cazuza, Lulu Santos, Cássia Eller, Gabriel, O Pensador, O Rappa, Seu Jorge, Natiruts, Nando Reis, Marcelo D2, Charlie Brown Jr., Mv Bill, Racionais Mc's entre tantos outros que não vieram a mente.
Tirando esse grupo seleto a conclusão que a gente pode chegar é que vivemos em um contexto mais "vazio" impossível... As letras não dizem absolutamente nada, só precisa ter uma base que engane aliada a letras que persistam em seu inconsciente... É daí que surgem os Latinos, as Kelly Keys, os Suplas, os KLBs, enfim, prometi não entrar em juízo de valores.
O que me deixa com um pé atrás é que a tendência parece piorar. Num mundo neoliberal, onde "tudo pode", onde a mídia ganhou uma potência avassaladora, onde nos passam a idéia de que o que vende é sinônimo do que é bom, a situação não parece agradável. A cada dia surgem mais e mais músicas sem conteúdo algum, facilmente ganham espaço nos diversos meios que temos disponíveis. Sinto-lhes informar mas deixaremos uma herança musical da pior qualidade para os nossos filhos.
A dinâmica parece que mudou: a nossa geração está marcada por mulheres dizendo que "hoje em dia não tem mais amor, é só troca de favor"e os machos só querendo "um pente". Os valores, as conquistas, o charme, os papéis de homens e mulheres se embaralharam na loucura do século.
Acredito que esse desabafo é um tanto quanto necessário para todos os amantes da música. Não quero denegrir a imagem de gênero nenhum, muito menos torná-lo menos relevante. Acontece que só a música traduz em forma de sensações tudo aquilo que muitas vezes fica engasgado na garganta e na alma.
Nara Leão, Wave
Pedro
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